Como aliviar a sobrecarga materna na atual situação de quarentena, com a perda da rede de apoio para lidar com as crianças e exigências extras de home office e “homeschooling”?
Apesar de todas as transformações advindas com o feminismo e as lutas pelos direitos das mulheres, ainda hoje os cuidados não remunerados e trabalhos domésticos são majoritariamente realizados por mulheres, numa proporção 3 vezes maior que os homens.
É esperado da mulher e, especialmente da mãe, uma força e resiliência sobre-humana, isto é, que simplesmente dê conta de tudo: casa, comida, roupa, compras, consultas médicas, material escolar, tarefas escolares, cuidados com os filhos, atenção ao marido, carreira.
Além das tarefas em si, todavia, é preciso que ainda chamemos atenção para a sobrecarga materna que é invisível, isto é, a carga mental relacionada à logística da família, com planejamento, organização e execução. Por exemplo, observar se falta comida na despensa, material escolar das crianças, roupas que não estão servindo mais e precisam ser substituídas etc.
Soma-se ainda a cobrança social com relação à estética (peso, cabelo, unha, depilação), comportamento (seu e dos filhos), disposição para o sexo etc. Enfim, diversos itens que circulam na mente das mulheres como preocupações gerando uma constante sensação de exaustão.
Ser mãe em tempos de pandemia
Quando a ordem do dia é isolamento social, home office e “homeschooling”, mais algumas responsabilidades são acrescentadas à lista com toda logística das mudanças trazidas pela pandemia, além da perda da rede de apoio extra-casa para cuidar das crianças.
Com isso, um rearranjo da divisão de tarefas pode ter acontecido em algumas casas, com maridos sem poder sair para trabalhar e revezando com as esposas nas tarefas domésticas, por exemplo. Todavia, na grande maioria dos casos que temos visto, tal rearranjo não foi possível, ou pelo menos não de forma suficiente para liberar as mães de tamanha sobrecarga.
O resultado mais evidente desse tenso processo são mães extremamente cansadas, com a paciência no limite e tendo muitas dificuldades para lidar com os filhos em casa de forma saudável e respeitosa para ambos.
O que fazer para seguir por esse período de quarentena, que não sabemos até quando vai se estender, diminuindo essa sobrecarga, mantendo nossa saúde mental e uma relação harmoniosa dentro de nossos lares?
Como lidar com a sobrecarga materna na quarentena?
1) Tomar consciência do que causa essa sobrecarga.
Em primeiro lugar é preciso um processo de tomada de consciência, ou seja, precisamos reconhecer exatamente quais são as coisas que vem gerando essa sobrecarga em nós: com o que temos nos preocupado no nosso dia-a-dia, o que nos chama atenção? Para isso, um exercício prático muito eficaz é:
Faça uma limpeza mental, descarregando em uma folha de papel (ou bloco de notas no smartphone) todas as coisas que lhe vêm à mente e com as quais você sabe que terá que lidar uma hora ou outra.
2) Reconhecer e aceitar que não damos conta de tudo.
Olhe para a lista que você fez. Risque tudo que não for possível, viável, ou realmente importante para ser resolvido durante a próxima semana, pelo menos. Reconheça as coisas que você simplesmente não pode resolver, seja porque não dependem de você, mas sim de outra pessoa, ou porque você está impossibilitada de dar conta nas atuais circunstâncias.
Aquilo que foi riscado, simplesmente deixe ir. Liberte-se de ficar preocupada com essas coisas que você riscou. Há muitos pratinhos para serem equilibrados neste momento, mas você só tem duas mãos. É preciso decidir quais pratinhos você vai deixar cair para que os outros, mais importantes e viáveis, continuem equilibrados.
“que tipo de coisa você precisa abrir mão um pouco mais pela sua saúde mental?” (Thais Becker)
É isso que queremos dizer quando repetimos: priorize e flexibilize!
3) Rever acordos dentro de casa.
Com a lista de demandas que restou, converse com quem mora com você, seja um companheiro/a, mãe, sogra, colega de quarto. Revejam os acordos pré-estabelecidos, considerando que estamos em uma realidade diferente agora, com a quarentena.
Seja sincera e admita para essa outra pessoa que você precisa de ajuda. E aceite a ajuda que ela puder dar, mesmo que as coisas não saiam exatamente como você gostaria. Inclua também as crianças na divisão de tarefas. De acordo com a idade há uma série de itens que elas podem fazer não só para “ajudar” você, mas também para se sentirem úteis e parte do time que deixa a casa confortável e organizada.
4) Conversar abertamente sobre o que está sentindo.
Com todos da casa, inclusive com as crianças. É preciso que demos atenção ao que estamos sentindo nesse momento. Nunca passamos por uma situação como esta. Precisamos verbalizar essas emoções, ao invés de tentar reprimi-las ou escondê-las.
Pois, ainda que seja importante alimentar a esperança de que as coisas vão melhorar, nós também precisamos admitir que estamos sentindo medo, angústia, preocupação, cansaço.
Fale sobre isso com as pessoas que estão vivendo essa quarentena com você, e as ouça também. Ouça especialmente as crianças. Reconhecer e nomear as emoções é um passo muito importante da educação emocional, que é útil para todos nós.
Se perceber que a angústia, medo, tristeza estão muito fortes, paralisando-nos, avalie buscar ajuda profissional. Mesmo com a pandemia, alguns profissionais estão atendendo virtualmente e podem te ajudar a superar essas dores.
5) Fazer uma lista de coisas que te fazem bem.
E que são possíveis de serem realizadas na atual situação. Ver um filme, tomar um banho demorado, ouvir uma playlist, assistir a live do artista preferido, exercício físico, meditação, leitura. Comece fazendo uma lista.
Depois, se programe para realizar pelo menos uma coisa por dia. Ou, a cada dois dias em situações extremas. Mas não deixe de fazer. Coloque esse item naquela primeira lista que fizemos, de prioridades.
Acredite, nada é “besteira” ou “perda de tempo” se é para manter você de pé! Nossos filhos precisam de muitas coisas, mas com certeza o que eles mais precisam é de nós inteiras.
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Eu poderia dar aqui mais um monte de dicas do que você poderia fazer para seguir nessa quarentena sem enlouquecer com a sua sobrecarga materna na quarentena. Mas, para falar a verdade, eu sei que você dificilmente conseguirá colocar em prática se eu fizer uma lista muito grande de sugestões! (risos).
Para finalizar, só quero deixar para você, mãe, o meu abraço. Temos muitas responsabilidades, muitas coisas para cuidar, especialmente agora com todas as mudanças trazidas pela pandemia. Não se culpe por não dar conta. Ninguém dá. Todo mundo tem que fazer escolhas e sobreviver da melhor maneira que for possível nessas condições. Tenho certeza de que você está fazendo tudo que pode.
Comente aqui embaixo do que você tem abrido mão nos últimos dias para manter sua “sanidade mental”. Eu, por exemplo, estou bem mais flexível com relação ao uso das telas com o meu filho. E você?
Se achou este texto útil, envie para uma amiga que está precisando aliviar sua sobrecarga materna nesta quarentena.
Se quer ver um pouco mais sobre esse assunto, confira o vídeo da Live que fiz no Instagram com a pedagoga e educador parental Taís Alice:
